11 de fev. de 2009

Parteiras integram rede para inclusão do parto domiciliar no SUS

Parteiras tradicionais das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, no Médio Solimões (AM), devem participar em 2009 do primeiro encontro estadual que reunirá parteiras tradicionais, agentes de saúde, gestores públicos e profissionais da área de saúde do Amazonas. A previsão é que o encontro ocorra entre abril e maio do próximo ano em Manaus, com o objetivo de formar de uma rede estadual colaboradora para o planejamento, monitoramento, avaliação e execução de políticas de inclusão do parto e nascimento domiciliar, assistidos por parteiras, no Sistema Único de Saúde (SUS).

Em novembro do ano passado, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) e o Grupo Curumim - Gestação e Parto, sediado em Recife/PE, deram início à formação de uma rede regional de parteiras que atuam no Médio Solimões. Essa região, além de englobar as Reservas Mamirauá e Amanã, também abrange o município de Tefé, onde ocorreu o encontro. Participantes dessa rede, integrada não só por parteiras, mas também por agentes de saúde rurais e urbanos, farão parte do encontro em Manaus. Essa reunião, por sua vez, servirá, entre outros objetivos, para delegar representantes para o encontro nacional, que deverá ser realizado também em 2009 para discutir políticas de inclusão do parto e nascimento domiciliar no SUS.

Essas iniciativas fazem parte do projeto “Parteiras Tradicionais – Inclusão e Melhoria da Qualidade da Assistência ao Parto Domiciliar no SUS”, voltado ao fortalecimento do vínculo entre parteiras tradicionais e serviços de saúde para a promoção da saúde e redução da morbidade e mortalidade materna e neonatal no Brasil. O projeto é desenvolvido pelo Grupo Curumim, com o apoio do Ministério da Saúde e de várias organizações, entre elas o Instituto Mamirauá, por intermédio do trabalho de profissionais do Programa Qualidade de Vida da organização.

A parceria com Mamirauá começou há sete anos e, desde então, foram realizados, anualmente, encontros e capacitações técnicas regionais e municipais com a participação de profissionais de saúde urbanos e de parteiras tradicionais e agentes de saúde que atuam nas comunidades rurais das Reservas Mamirauá e Amanã.

O encontro, realizado em Tefé no ano passado, foi o sétimo e, teve a participação de 49 pessoas. Dessas, 14 eram parteiras que nunca participaram de cursos ou que, pelo menos, tinham participado de apenas um, necessitando de reforço de conhecimentos técnicos. O conteúdo desse curso abrangeu desde anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor, passando pela importância da realização de exames pré-natal e a distribuição de kits de trabalho, contendo materiais básicos para a realização do parto domiciliar como tesoura, gaze, álcool, lanterna com pilhas, entre outros.

Os participantes também avaliaram o trabalho realizado nos últimos sete anos, com o objetivo de estabelecer um plano de trabalho contendo as prioridades que devem ser trabalhadas na região para a melhoria da assistência da parteira e sua inclusão e reconhecimento como profissionais do SUS. De acordo com a enfermeira Paula Viana, da coordenação colegiada do Grupo Curumim, entre as principais prioridades estão a busca de parcerias, de maior apoio das secretarias municipais de saúde e a realização de cursos de capacitação e de atualização para as parteiras.

Além de trabalhar com o Instituto Mamirauá para a formação da rede colaboradora regional do Médio Solimões, o Grupo Curumim ainda mantém parcerias com instituições de outros estados, entre eles Pará, Pernambuco, Paraíba, Bahia e Minas Gerais, também com o objetivo de formar redes locais e estaduais colaboradoras de parteiras tradicionais, profissionais de saúde e gestores.

Reconhecimento. A atuação de parteiras em comunidades rurais de difícil acesso é fundamental. Esse é o caso das comunidades localizadas nas Reservas Mamirauá e Amanã que, em função de vários fatores, entre eles a distância de centros urbanos, contam com o trabalho das parteiras. Exemplo parte de Conceição de Deus Laranjeira, que mora na comunidade Boa Esperança, na Reserva Amanã. Ela tem 54 anos e há 25 faz partos, ajudando inclusive todos os 25 netos a nascerem. No mesmo caminho, está a filha Irenilda de Deus Pereira, que, há 24 anos, auxilia Conceição no trabalho. “Cursos como esse que a gente faz são muito importantes”, opina Irenilda, se referindo a sua participação nas oficinas de capacitação realizadas durante o encontro em novembro.

“Essas mulheres não são reconhecidas como profissionais de saúde e, assim, não participam das políticas de saúde das diferentes esferas públicas”, explica Paula Viana. “Por isso, é importante que elas sejam estimuladas a organizarem-se para buscar parcerias e a se articularem com as gestões públicas municipais”, observa.

Sobre o IDSM. O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá é uma Organização Social (OS), supervisionada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Criado em 1999, sua missão é promover a conservação da biodiversidade mediante o manejo participativo e sustentável de recursos naturais. É co-gestor das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, duas unidades de conservação com, respectivamente, 1,12 milhão e 2,35 milhões de hectares. Tem o apoio do governo do Estado do Amazonas, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), da Petrobras, do Wildlife Conservation Society/Fundação Gordon Moore, do programa inglês Darwin Initiative, do Zoological Society of London (ZSL), entre outras.

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