Em novembro do ano passado, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) e o Grupo Curumim - Gestação e Parto, sediado em Recife/PE, deram início à formação de uma rede regional de parteiras que atuam no Médio Solimões. Essa região, além de englobar as Reservas Mamirauá e Amanã, também abrange o município de Tefé, onde ocorreu o encontro. Participantes dessa rede, integrada não só por parteiras, mas também por agentes de saúde rurais e urbanos, farão parte do encontro em Manaus. Essa reunião, por sua vez, servirá, entre outros objetivos, para delegar representantes para o encontro nacional, que deverá ser realizado também em 2009 para discutir políticas de inclusão do parto e nascimento domiciliar no SUS.
Essas iniciativas fazem parte do projeto “Parteiras Tradicionais – Inclusão e Melhoria da Qualidade da Assistência ao Parto Domiciliar no SUS”, voltado ao fortalecimento do vínculo entre parteiras tradicionais e serviços de saúde para a promoção da saúde e redução da morbidade e mortalidade materna e neonatal no Brasil. O projeto é desenvolvido pelo Grupo Curumim, com o apoio do Ministério da Saúde e de várias organizações, entre elas o Instituto Mamirauá, por intermédio do trabalho de profissionais do Programa Qualidade de Vida da organização.
A parceria com Mamirauá começou há sete anos e, desde então, foram realizados, anualmente, encontros e capacitações técnicas regionais e municipais com a participação de profissionais de saúde urbanos e de parteiras tradicionais e agentes de saúde que atuam nas comunidades rurais das Reservas Mamirauá e Amanã.
O encontro, realizado em Tefé no ano passado, foi o sétimo e, teve a participação de 49 pessoas. Dessas, 14 eram parteiras que nunca participaram de cursos ou que, pelo menos, tinham participado de apenas um, necessitando de reforço de conhecimentos técnicos. O conteúdo desse curso abrangeu desde anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor, passando pela importância da realização de exames pré-natal e a distribuição de kits de trabalho, contendo materiais básicos para a realização do parto domiciliar como tesoura, gaze, álcool, lanterna com pilhas, entre outros.
Os participantes também avaliaram o trabalho realizado nos últimos sete anos, com o objetivo de estabelecer um plano de trabalho contendo as prioridades que devem ser trabalhadas na região para a melhoria da assistência da parteira e sua inclusão e reconhecimento como profissionais do SUS. De acordo com a enfermeira Paula Viana, da coordenação colegiada do Grupo Curumim, entre as principais prioridades estão a busca de parcerias, de maior apoio das secretarias municipais de saúde e a realização de cursos de capacitação e de atualização para as parteiras.
Além de trabalhar com o Instituto Mamirauá para a formação da rede colaboradora regional do Médio Solimões, o Grupo Curumim ainda mantém parcerias com instituições de outros estados, entre eles Pará, Pernambuco, Paraíba, Bahia e Minas Gerais, também com o objetivo de formar redes locais e estaduais colaboradoras de parteiras tradicionais, profissionais de saúde e gestores.
Reconhecimento. A atuação de parteiras em comunidades rurais de difícil acesso é fundamental. Esse é o caso das comunidades localizadas nas Reservas Mamirauá e Amanã que, em função de vários fatores, entre eles a distância de centros urbanos, contam com o trabalho das parteiras. Exemplo parte de Conceição de Deus Laranjeira, que mora na comunidade Boa Esperança, na Reserva Amanã. Ela tem 54 anos e há 25 faz partos, ajudando inclusive todos os 25 netos a nascerem. No mesmo caminho, está a filha Irenilda de Deus Pereira, que, há 24 anos, auxilia Conceição no trabalho. “Cursos como esse que a gente faz são muito importantes”, opina Irenilda, se referindo a sua participação nas oficinas de capacitação realizadas durante o encontro em novembro.
“Essas mulheres não são reconhecidas como profissionais de saúde e, assim, não participam das políticas de saúde das diferentes esferas públicas”, explica Paula Viana. “Por isso, é importante que elas sejam estimuladas a organizarem-se para buscar parcerias e a se articularem com as gestões públicas municipais”, observa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário