13 de mai. de 2009

Pílula do dia seguinte é usada de forma errada, mostra pesquisa em PE

CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo

Pesquisa com 4.200 estudantes entre 14 e 19 anos mostra que 27% já usaram a pílula do dia seguinte. Desses, 78% o fizeram de forma errada: tomaram o remédio antes do ato sexual ou ao notar o atraso da menstruação, por exemplo.

A pílula - que impede a fertilização do óvulo pelo espermatozoide- deve ser prescrita pelo médico e usada até 72 horas após o ato sexual desprotegido. O método contraceptivo é oferecido pelo SUS.

O estudo, feito em 76 escolas estaduais de 44 municípios de Pernambuco e publicado em periódico científico da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), revelou ainda que 35% dos alunos nunca haviam recebido informações sobre o método contraceptivo de emergência. E, entre os que receberam, a principal fonte foram os amigos.

Para o ginecologista Nilson Roberto de Melo, presidente da Febrasgo (federação das sociedades de ginecologia e obstetrícia), o alto índice de desconhecimento sobre a pílula não surpreende: "É até esperado. Muitos jovens usam a contracepção de emergência de forma errada porque não recebem informações apropriadas".

Segundo as pesquisadoras e autoras do estudo, Maria Suely de Araújo e Laura Olinda Fernandes Costa, da Universidade de Pernambuco, quatro em cada dez entrevistados (44%) já tinham iniciado a vida sexual - 30,9% entre os 13 e os 14 anos.

Entre os que mantêm relações sexuais, 60% dos rapazes e 24% das moças contaram ter tido três ou mais parceiros. A maioria diz ter usado camisinha na última relação sexual.




Amigo

Os amigos foram mais citados como fontes de informação sobre a contracepção de emergência do que os profissionais de saúde e os professores.

"Os adolescentes recorreram aos amigos, provavelmente não preparados para isso, e podem ter recebido informações deformadas. O fato mais preocupante, porém, é a baixa participação dos profissionais de saúde como agentes de informação", dizem as pesquisadoras.

Elas verificaram também que os jovens consideram monótonas e desinteressantes as palestras realizadas nos serviços de saúde. "Há necessidade de desenvolver programas de educação sexual e reprodutiva efetivamente voltados para os adolescentes, numa linguagem mais próxima à sua realidade".

Nilson de Melo, da Febrasgo, concorda: "As políticas sexuais e reprodutivas do sistema de saúde não são focadas no jovem, o que é um erro porque a taxa de fecundidade cai em todas as faixas etárias, exceto na adolescência. É um público que merece mais atenção."

São Paulo

Em São Paulo, dados parciais de um estudo que está sendo desenvolvido pela Faculdade de Saúde Pública da USP também revela o desconhecimento dos adolescentes em relação à pílula do dia seguinte: menos de 20% deles sabem que o método deve ser usado em caso de emergência, por exemplo.

Segundo a pesquisadora Ana Maria Lefevre, uma das coordenadoras do estudo, os jovens ainda fazem a "maior confusão na utilização da pílula". Lefevre também não se surpreendeu com os dados da pesquisa da Universidade de Pernambuco.

"No nosso estudo, teve menino achando que a pílula é abortiva, outros que pensam que é para vir a menstruação e existe até quem acredite que ela sirva para engravidar."

A pesquisa da USP ouviu 300 adolescentes paulistas entre 12 e 20 anos e 60 profissionais da saúde para investigar a percepção desse público sobre o método. Para 8,3% dos profissionais entrevistados ela serve como abortivo. "Há influência de muitas questões, inclusive religiosas, intervindo nas opiniões e decisões", explica Lefevre.

O estudo também revelou que a grande maioria dos jovens entrevistados é a favor da pílula, mas eles também não conhecem bem seu funcionamento. Para 30% dos homens e 45,26% das mulheres entrevistados ela serve simplesmente para evitar uma gravidez.

Apenas 17,14% deles e 13,36% delas dizem que esse método só deve ser usado em situações de emergência.

Para o ginecologista Nilson de Melo, muitas adolescentes têm usado a pílula de emergência como um contraceptivo comum. "Um dos efeitos colaterais mais comuns é a alteração no ciclo menstrual." Ou seja, fica quase impossível calcular o período fértil.

Outros sintomas são dor de cabeça, sensibilidade nos seios, náuseas e vômitos.


Fonte: Folha de S. Paulo

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