2 de out. de 2008

Aborto, dogmas e repressão: nossa faceta medieval

Por: Artur Henrique, presidente nacional da CUT

A perseguição policial a mulheres que recorreram ao aborto é um dos aspectos da anomalia histórica brasileira em relação a tudo o que envolve gravidez. No Mato Grosso do Sul, caso emblemático, mais de 10 mil mulheres estão expostas a uma espécie de apedrejamento, sob acusação de terem feito aborto.

Por um lado, o País não consegue fazer uma discussão ampla sobre métodos contraceptivos nem planejamento familiar, pois aparentemente temos de prestar reverência a idéias medievais que a igreja católica sustenta até hoje. O mesmo ideário pré-Renascentista, que ainda tem influência sobre decisões como pesquisas com células-tronco, invade a individualidade das mulheres e chega a insistir na necessidade de manter a gravidez em casos de estupro ou anencefalia, por exemplo. Moralismo monstruoso que conta com o silêncio obsequioso do poder público e que encontra amparo espalhafatoso nos aparelhos de repressão.

Tamanha hipocrisia e tal moralismo decadente nos mantêm presos a uma situação em que milhares de mulheres colocam suas vidas em risco em clínicas de aborto clandestinas ou através de tentativas solitárias e desesperadas de interromper a gravidez.

Somos contra a criminalização do aborto e queremos que essa mudança venha acompanhada de um debate sereno e profundo que percorra todas as camadas sociais, garantindo políticas públicas amplamente divulgadas e enraizadas em todos os locais para a saúde da mulher.O ato público realizado pelas mulheres na tarde desta sexta-feira é um clamor sintonizado com o Século XXI e uma tentativa de clarificar que a dignidade humana é um valor que nenhum dogma consegue compreender em toda sua extensão.

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